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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Por que fazer teatro?

Atualmente, trabalhando como professora de teatro e coordenadora de uma escola de Artes, tenho questionado muitos pontos de vista equivocados sobre o aprendizado de teatro. O aluno que chega na sala de aula pensa que aprenderá tudo em uma semana, e que teatro se trata apenas de subir no palco e vomitar um texto. Além disso, a mídia expõe a profissão como uma máquina de fama e dinheiro. O que vejo é bem o contrário, pois para se trabalhar em teatro é necessário muito estudo e disciplina. E o retorno financeiro muitas vezes é demorado e dolorido. Com o intuito de sanar minha necessidade de se fazer um areflexão constante sobre o teatro e suas ramificações, tenho escrito alguns artigos para um jornal da zona leste de são paulo que disponibilizou este espaço para que essas indagações fossem feitas. Abaixo, segue o primeiro artigo escrito por mim a pedido do jornal. Boa diversão!

"Toda vez que um aluno chega para fazer aula de teatro, pergunto as razões de este estar ali. As respostas costumam ser muito parecidas. Timidez, dificuldade de comunicação, conflitos no relacionamento pessoal, postura incorreta. Percebo que muitas pessoas procuram o teatro não tanto para descobrir uma veia artística, mas para fazer dos instrumentos da arte teatral um mecanismo de perceber- se melhor e de relacionar-se com os outros. Esses instrumentos básicos encontram-se propriamente na expressão corporal e vocal, na interpretação, improvisação e jogos teatrais. Mas, do que se trata tudo isso? Estaria o teatro ligado a mecanismos de auto-ajuda? Creio que no que se refere ao autoconhecimento, percepção e transformação, talvez os princípios sejam bem parecidos. Mas, nas aulas de teatro o foco é a redescoberta de possibilidades individuais através da prática. Redescoberta porque não cabe ao teatro injetar em ninguém um aprendizado. Os elementos teatrais estimulam o aluno a utilizar novas possibilidades corporais e vocais, e, através desta experiência e vivência, aproveitar essas descobertas na vida pessoal, social e principalmente profissional. E é interessante perceber como neste território, a lei do certo e do errado não encontra lugar, pois cada aluno descobre em seu próprio corpo e voz possibilidades dentro de seu próprio limite, ou do que lhe seja mais orgânico. Uma maneira mais comunicativa de se “dizer algo através do corpo”, pode ser mais expansiva para uma pessoa, ou mais sutil para outra. O que importa é perceber, aceitar as diferenças e saber aproveitá-las tanto nas aulas de teatro como na vida cotidiana. E, o mais interessante também é a idade para se fazer aulas de teatro. Não importa a idade. Na verdade, quanto maior a necessidade de se conhecer, ultrapassar barreiras, criar coletivamente e vivenciar novas possibilidades, melhor ainda. Para se aprender teatro não é necessário já ter sido alfabetizado, no caso de crianças, pois a partir dos 2 anos a criança já tem um discenirmento básico da fala e do corpo. Para os adolescentes de plantão, trata-se de mais uma atividade que rompe com as barreiras da timidez e da introversão. Já os adultos, com maior dificuldade para encontrar tempo na agenda, sugiro a aula de teatro por esta unir vários aspectos: trabalho de corpo, voz, dinâmicas, criatividade, imaginação e relação interpessoal. Na terceira idade, o teatro torna-se fundamental para colocar em prática todas as experiências e aprendizados vivenciados pelo corpo e pela mente. Trata-se, portanto, o teatro, não apenas de uma expressão artística necessária e fundamental para a construção de uma sociedade, mas também, de uma forma repleta de elementos que auxiliam na aceitação, compreensão e transformação do ser humano. E isto pode acontecer em qualquer idade, lugar ou classe social. Basta apenas querer."